PLANTÃO 24H
Av. Amazonas nº 2218, bairro Santo Agostinho - Belo Horizonte/MG
Dr. Fernando

A visão dos cães: uma maneira diferente de ver o mundo

Fernando E. de Oliveira, M.V, PhD. Coordenador do Serviço de Oftalmologia e Microcirurgia Ocular


A estrutura da retina dos cães indica que eles enxergam colorido, entretanto, não igual aos seres humanos, mas semelhante. Na figura 1 mostra a comparação do espectro visível do ser humano com visão de cores normal tricromática (superior) e de um cão com visão de cores normal dicromática (inferior).

imagem%20tri%20e%20bi%20edit.png

Figura 1 - Cortesia de ilustração do Dr. Jay Neitz) (Miller)

Estudos neurobiológicos e moleculares como os potenciais visuais evocados, e os imuno-histoquímicos sugerem que os cães possuem uma visão de cores dicromática, que parece ser semelhante ao daltonismo dos seres humanos.

Os cães possuem dois tipos de pigmentos, um sensível à luz de comprimento de onda media/longa com sensibilidade espectral de 555 nm; vermelho / verde e outro sensível a luz de comprimento de onda curto com sensibilidade espectral de 429 nm; azul. Os fotoreceptores cones ocupam na retina dos cães menos de 10% da região correspondente à fóvea dos seres humanos que ocupam quase 100%. Eles utilizam os fotorreceptores bastonetes para enxergar em baixa luminosidade e possuem um maior número em comparação aos seres humanos. Por isso se encontrar um cão à noite, com pouca iluminação e não enxerga-lo, com certeza ele vai te enxergar.

Como é típico de espécies adaptadas a visão com pouca luminosidade, os cães demoram mais para recuperar completamente a visão após exposição à luz brilhante. Isso é devido ao tapetum lucidum, uma estrutura presente na retina deles que é altamente celular, entre 9 e 20 camadas, rica em zinco e cisteína sendo um refletor eficiente de luz, o que justifica quando em uma estrada o farol do carro ilumina diretamente nos olhos de um cão ele fica imobilizado, são frequentemente atropelados por este motivo. Aos contrario do tapetum lucidum, os cães também apresentam outra estrutura na região inferior da retina, geralmente de pigmentação escura, o tapetum nigrum, que atenua o excesso de luz.

A capacidade de perceber a luz e o movimento são aspectos fundamentais da visão e os cães mais sensíveis são capazes de reconhecer um objeto em movimento a até 900 m de distância, mas o mesmo objeto, quando parados, são capazes de enxergar a uma distancia de apenas 585 m ou menos. Outros fatores, como a perspectiva visual, o campo visual, percepção de profundidade, acuidade visual e capacidade perceber a cor, a forma e brilho, também são importantes na maneira de como os cães enxergam o mundo.

Em relação à acuidade visual, os cães são menos capazes do que os seres humanos de perceber claramente todos os detalhes de um objeto, de quatro a oito vezes pior, ou seja, na tabela de Snellen varia entre 20/50 e 20/140, com 20/75 em média. (figura 2) Isso se deve às diferenças estruturais anatômicas dos meios ópticos, e especialmente, às poucas conexões dos fotorreceptores às células ganglionares e ao menor número de fibras do nervo óptico. Entretanto, é possivel que os cães sejam capazes de distinguir tonalidades de cinza inimagináveis aos olhos dos seres humanos.

snellen%20co%20e%20humano.jpg

Figura 2 - A representação da acuidade visual 20/20 do ser humano normal (esquerda) e acuidade visual 20/75 do cão normal à direita. O ser humano com visão normal 20/20 pode enxergar os detalhes das linhas finas à esquerda a partir 2 metros de distância, enquanto o cão com visão normal não pode. O cão com acuidade visual de 20/75 com visão normal não pode enxergar as linhas à esquerda da mesma distância.

O variação acomodativa para os cães não excede a 3 Dioptrias, o que sugere que eles são capazes de focalizar objetos com precisão entre 33 e 50 cm de seus olhos. Objetos mais próximos, a visão ficará embaçada. Assim, os cães usam outros sentidos, como a audição ou cheiro para a investigação de objetos muito próximos. Como comparação, as crianças pequenas são capazes de focalizar objetos em aproximadamente 14 Dioptrias, ou cerca de 7 cm de distancia do objeto.

Referências bibliográficas

Kasparson, A. et al. 2013. Colour cues proved to be more informative for dogs than brightness. Proceedings of the Royal Society.

Miller,P. Structure and function of the eye. In: Slatter´s Fundamentals of Veterinary ophthamology, edition 4 . Philadelphia: Saundes, 2008, p.1-9).

Siniscalchi,M.et. al.2017 Are dogs red-green colour blind? Department of Veterinary Medicine, Section of Behavioral Sciences and Animal Bioethics, University of Bari 'Aldo Moro', Bari, Italy.